Plano Diretor aprovado coloca Ipiranga à sombra de prédios altos

Plano Diretor aprovado coloca Ipiranga à sombra de prédios altos

O Plano Diretor Estratégico da cidade de SP foi aprovado na noite desta segunda-feira (26) em segunda votação pela Câmara Municipal e na prática favorece a multiplicação de prédios altos (mais ou menos próximos de eixos de transporte e também no interior dos bairros).

Foram 44 votos a favor e 11 contrários. Os três vereadores com base eleitoral na região do Ipiranga, Aurélio Nomura (PSDB), Camilo Cristofaro (Avante) e Gorge Hato (MDB), votaram a favor do texto final do plano. O plano diretor revisto agora segue para a sanção do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Para 700 m de raio de trem e metrô e 400 m de corredor de ônibus

Uma das principais mudanças do texto foi o aumento de 600 m para 700 m de raio para a construção de prédios mais altos a partir das estações de trem e metrô. E de 300 m para 400 m do raio a partir de corredores de ônibus para a construção de arranha-céus ainda maiores.

“No caso do Ipiranga, a área mais afetada deve ser o entorno das estações de metrô Santos-Imigrantes, Alto do Ipiranga e Sacomã. Por mais que seja colocado que, na revisão da Lei de Zoneamento, as áreas de adensamento nos eixos poderão ser alteradas mediante as preexistências do lugar, sabemos como isso funciona na prática das disputas urbanas”, alerta o arquiteto e urbanista Lucas Chiconi, pesquisador da Cacal (Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina) e diretor do IABsp (Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo).

As áreas próximas às estações de metrô ipiranguistas já sofrem com a multiplicação de projetos de prédios, que redesenham a paisagem da região, pondo centenas de residências no chão. Um bairro horizontal, com jeito de interior, se desfaz.

Com o plano diretor revisto, que orientará o desenvolvimento e o crescimento da capital paulista e do Ipiranga até 2029, estimulam-se novos empreendimentos mais altos ainda num raio 100 metros maior. Isso quer dizer que novas áreas, horizontais, entrarão no raio do interesse das incorporadoras e construtoras.

Sem compensações

E isso sem contrapartidas assumidas pelos novos projetos, pois a Prefeitura de SP informou ao Ipiranga22 que não vê necessidade de compensações nos entornos, como no caso do trânsito nas vias próximas. O Alto do Ipiranga já vive períodos de caos no trânsito em suas vias principais, como as avenidas do Cursino e Gentil de Moura e rua Vergueiro. Vêm muito mais congestionamentos por aí, pois não há garantia de que os ocupantes dos futuros apartamentos vão deixar em casa e utilizar o metrô que em parte os atraiu.

Outra mudança que poderá impactar o Ipiranga é a que aumenta o coeficiente de construção no interior dos bairros. Agora as construtoras podem construir prédios com área útil três vezes maior do que a área do terreno (antes autorizava-se duas vezes a área).

O vereador Aurélio Nomura (PSDB) justificou seu apoio ao texto às mudanças incorporadas ao texto final. Segundo ele, “essas atualizações deverão priorizar o desenvolvimento, a qualidade de vida, [o estímulo] a cidades inteligentes”.

Nomura listou mudanças introduzidas, avaliadas por ele como positivas para a cidade, como “proteção às vilas; introdução às diretrizes da Agenda 2030 com ênfase na redução de consumo de água, energia, reúso de água [emenda de Nomura]; e novas centralidades regionais com vistas a encurtar a distância da moradia com emprego”.

Para o urbanista Chiconi, entretanto, falta ainda uma visão generosa e inclusiva de cidade e projeto de verdade, sobretudo.

“Colocar pessoas perto do metrô é uma maneira de reduzir a supremacia do carro. Porém, quais pessoas? Em quais condições? A que custo? Esses são os questionamentos. É por isso que deveríamos estar discutindo projetos e não somente o texto genérico da lei –por mais influente, significativa e hegemônica que essa seja”, finaliza o urbanista Chiconi.